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  • Foto do escritorElis Cristina

HOLOFOTE NAS MULHERES


Semana passada falei sobre o documentário em homenagem a Burle Marx, ressaltando o grandíssimo paisagista e profissional diverso e exímio que foi, além do legado para nossa cultura brasileira o qual deixou.

E já que mexemos no baú de lembranças, por que não destacar, mas agora, duas figuras femininas INCRÍVEIS, e ainda ativas, de grande importância tanto quanto Bule Marx, e que contribuíram, e continuam contribuindo, para o desenvolvimento do paisagismo, da ecologia e agronomia de nosso país, merecedoras de reconhecimento também.

Estamos falado de Rosa Grena Kliass e Ana Maria Primavesi, uma brasileira de 86 anos e arquiteta de formação e a outra uma austríaca, mas brasileira de coração, de 98 anos e engenheira agrônoma, onde a paixão pelo que fazem foi o que as tornaram referências em suas áreas, além de enfrentarem de frente muitos dos desafios que caminhavam de mãos dadas com o preconceito para com a figura feminina no mercado de trabalho e acadêmico.

Rosa Grena Kliass, nasceu na cidade de São Roque, São Paulo, e se formou em Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo em 1955. Sua escolha por trabalhar com paisagismo veio mais para o final do curso, e muitos dizem que até se confunde, o início de seu trabalho como paisagista com o início do paisagismo no Brasil.

A disciplina de paisagismo, naquele mesmo ano de 1955, foi quando passou a fazer parte da grade curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo, que até então era ministrado no Politécnica e com um viés mais técnico.

Rosa e sua amiga e única, além de Rosa, mulher naquela turma da faculdade, Miranda Magnoli, se encantaram pela disciplina dada pelo professor e arquiteto americano, Coelho Cardozo, o qual se baseava nas escolas americanas, trazendo uma visão de um paisagismo mais voltado à cidade.

Conhecida como Poeta da Paisagem, Rosa, conjuntamente com sua amiga Miranda, foi considerada a primeira mulher paisagista brasileira, e, infelizmente, sofreu com a falta de estudos dedicados à área aqui no Brasil, bem como com demandas de trabalho, o que a levou a trabalhar, inicialmente, com arquitetura de interiores, mas sempre se aproveitava das oportunidades para criar jardins em seus projetos.

Foi em 1958, a convite do então prefeito da cidade de São Roque, que Rosa realizou seu primeiro grande projeto, O Largo dos Mendes, que depois lhe rendeu um prêmio da prefeitura de São Paulo.

No final dos anos 60 Rosa ganhou uma bolsa de estudos e foi estudar nos Estados Unidos, onde teve contato com a linha do planejamento paisagístico, cuja característica estava na valorização da paisagem local. E foi dessa teoria que Rosa estruturou seus trabalhos como paisagista, lhe gerando inúmeros prêmios, e o destaque em trabalhos que transformaram a paisagem brasileira.

Dentre muitos dos seus trabalhos, destaque para sua participação no Plano Urbanístico e Paisagístico da Cidade de Curitiba em 1965 sob a administração do urbanista Jaime Lerner, em 1966 desenvolveu o Plano de Áreas Verdes ao criar o departamento de Parques e Áreas Verdes na prefeitura de São Paulo, contribuindo para projetos destinados a quarenta e quatro praças, como da Benedito Calixto e a Praça Pôr-do-sol, e em 1976 elaborou estudos para Áreas Verdes e Espaços Abertos da cidade de Salvador na Bahia.

Na literatura publicou livros, teses e artigos, os quais, segundo ela, contribuíram para formação de muitos arquitetos paisagistas, além de em 1976 fazer parte da criação da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), sendo a primeira presidente, além de exercer a função de vice-presidente da Região Ocidental (Américas) da Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas – IFLA, e hoje atuar como conselheira suplente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo.

Rosa Kliass tem um papel importante no que podemos dizer na luta pelo reconhecimento do paisagismo em território nacional, bem como enfrentando uma batalha diária como figura feminina e reconhecimento e valorização da cultura brasileira, sendo, sem dúvida, uma profissional de extrema importância para nossa história cultural, para nosso desenvolvimento como cidade e sociedade, e muito bem representados em duas obras em específico, a do Parque do Abaeté em Salvador-BA, onde foi criada a casa das Lavadeiras, as quais corriam o risco de serem expulsas daquele local onde, por muito tempo, lavam suas roupas ali, e o Parque da Juventude, na cidade de São Paulo, onde era localizado o complexo penitenciário do Carandiru, um local de muita história de sofrimento e tristeza e que através de seu projeto de paisagismo contribui para ressignificação do local.

Essa profissional de grandíssima importância e múltipla, vale ressaltar, que ainda encontra-se na ativa, e, dentre muitas obras, destaque para algumas que fazem parte, com certeza, da paisagem de muitos de nós:

-Projeto paisagístico para a Avenida Paulista (1973);

-Parques Mariano Procópio e Halfeld – Juiz de Fora – MG (1979);

-Reurbanização do Vale do Anhangabaú (1981);

-Parque Mangal das Garças, Belém PA (1999);

-Parque do Forte, Macapá AP (2000);

-Parque da Juventude (2000).

Ana Maria Primavesi, é daquelas mulheres que quando temos a oportunidade de ouví-la falar é de encher o coração e, confesso que as vezes também, até os olhos de lágrimas. E se têm pessoas que transformam paixões em trabalho, Ana é uma dessas! Dedicou, e ainda dedica, sua vida a estudar o solo, tudo porque desde lá no início, quando ninguém via vida no solo, Ana via, e muito, advogando a vida toda pela importância do solo e de sua conservação.

Ana chegou ao Brasil fugindo da segunda guerra mundial, se naturalizou brasileira, e foi aqui onde dedicou estudar e se tornou responsável por avanços em pesquisas sobre os solos em geral, ao manejo ecológico, agroecologia e agricultura orgânica, fundando a Associação da Agricultura Orgânica.

Ao chegar nas terras tropicais, Ana se deparou com técnicas de manejo do solo iguais as que eram feitas no hemisfério norte, porém, depois de estudar os solos brasileiros, percebeu que não havia motivo de exportarmos tais técnicas, uma vez que o clima e os tipos de solos diferente eram empobrecidos com essas técnicas, bem como com a monocultura e agrotóxicos.

Se aprofundou em pesquisar sobre manejos que de forma consciente impactassem o menos possível o meio ambiente, focando no cuidado para com o solo - solo saudável, planta saudável, ser humano saudável - seu mantra. Ana afirma que o solo é um organismo vivo e que interage de várias formas com as plantas, e a grande maioria das doenças e pragas que surgem, mascaradas com agrotóxicos, ao redor do mundo, tem relação direta com a agricultura convencional.

"A agricultura convencional é a arte de explorar solos mortos. (…) as pessoas que comem agora estas colheitas, comem plantas doentes e também se tornam doentes. Uma planta deficiente somente pode gerar um homem deficiente e deficiência sempre significa doença. Por isso precisa-se a cada ano mais leitos hospitalares. Doenças antes nunca vistas aparecem, especialmente de vírus, como também nas plantas as pragas e doenças aumentam ano por ano. Em 1970 existiam no Brasil 193 pragas. Atualmente ultrapassa 650. De onde vieram? Bactérias, fungos, vírus e insetos que antes eram pacíficos e até benéficos agora se tornam parasitas. Por que? Porque as plantas são doentes nos solos doentes. E o solo é doente quando perde sua vida, sua porosidade, seu equilíbrio em nutrientes”.

Com um olhar holístico, compartilhando de valores comumente encontrados no feminino e na natureza, cooperação, conhecimento e coautoria, Ana Primavesi se destacou apresentando ao mundo acadêmico uma nova visão, tudo materializado em uma extensa literatura, além de receber diversos prêmios como “One World Award”, da IFOAM (em português “Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica”), em 2012 e o título de “Doctor honoris causa” em diversas universidades brasileiras, assim como

a homenagem do centro acadêmico da UFSCar quando inaugurado em 2010 que levou seu nome.

Eita mulherada pra lá de especial, não é não?! Com histórias dignas de serem contadas, recontadas e espalhadas por ai! Que tal dividir um pouco sobre suas histórias com quem você conhece? Tenho certeza que quanto mais pessoas as conhecerem, mais pessoas se sentirão inspiradas, assim como eu fui quando as conheci!

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