Você já deve ter ouvido alguém, ou até mesmo eu, falar em plantas exóticas - Mas afinal, por que aquelas plantas não originais do nosso território nacional são chamadas de EXÓTICAS !?
Pois muito bem, resolvi fazer esse post para te responder isso, e ir até um pouco mais além, falar que além de exóticas temos aquelas que são INVASORAS, o que são, e quais seus impactos, bem como a ideia de nativas, e suas regiões.
Na década dos barões do café, os grandes casarões, alguns ainda existentes na região central da cidade de São Paulo, principalmente na Avenida Paulista, tinha como lema a ostentação, uma arquitetura rebuscada, detalhista, onde a cultura européia era referência.
No caso do paisagismo isso não foi diferente, pois, além de “chique” ter um jardim próprio, esse jardim tinha que ter a carinha dos jardins franceses, clássicos da Europa, e, portanto, se fazia necessário o uso de plantas daquelas regiões , as EXÓTICAS para nosso território.
Os barões do café e suas famílias procuravam por plantas que aqui no Brasil não existiam, dando início às importações de espécies vegetativas que, até então, não eram encontradas em nossa flora, plantas essas, que na sua maioria, não se adequavam ao nosso clima tropical, mas que eram trazidas do continente europeu como artigos de luxo, e logo essas plantas exóticas foram dando a cara dos então jardins daquela época, jardins artificiais ao máximo, intocáveis, que geravam a competição entre vizinhos para quem tivesse a maior diversidade de plantas exóticas.
O triste dessa história é que ecosistemas complexos, com grandes diversidades de espécies vegetativas e animais foram sendo suprimidos para dar lugar àquilo que não seria o natural do local, afinal, naquela época, e até os dias de hoje , para algumas pessoas, o que é nativo, originário do nosso país, da nossa história e cultura é deixado às margens do belo, do bom, enquanto que aquilo que é de outro país, isso sim tem grande valor sob a ótica de muitos.
Graças a este movimento de importação de espécies vegetativas do mundo INTEIRO, sim, encontramos espécies dos quatro cantos do planeta já aqui adaptadas ao Brasil, nossa história dos jardins, do paisagismo, é repleto de plantas exóticas, com o uso restrito de plantas nativas da flora brasileira, mesmo essa sendo responsável pela maior biodiversidade do planeta, com 55 mil espécies de plantas, equivalente a 25% de todas as espécies de plantas do planeta, segundo o site da secretaria da educação de Curitiba.
Assim como tudo que é para além do ponderado, esse uso desenfreado de plantas Exóticas nos jardins pelo Brasil a fora, muitas vezes somada a subtração de ecossistemas nativos, nos levou a encarar um grande vilão do século XXI relacionado aos Impactos negativos ao Meio Ambiente e às Mudanças Climáticas.
No Brasil, assim como na Nova Zelândia, segundo o guia de plantas exóticas do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, 70% das plantas atualmente registradas como invasoras foram introduzidas para fins ornamentais, ou seja, plantas estas que ameaçam os ecossistemas nativos, a diversidade biológica, muitas vezes por que essas espécies podem produzir alterações em propriedades ecológicas essenciais, como no ciclo hidrológico, uma vez que a maioria dessas espécies usam mais água do que as nativas, assim como na ciclagem dos nutrientes, pois acabam sendo mais exigentes em termos de fertilidade fazendo com que muitos nutrientes sejam perdidos.
Todo esse cenário criado pelas exóticas invasoras acabam alterando o habitat e levando a condições inviáveis para as espécies nativa, o que acarretam, muitas vezes, em erosões e sedimentações, diminuição do valor econômico e produtivo da terra e o valor estético da paisagem.
E agora você deve estar se perguntando: Mas o que as plantinhas que planto no meu jardim ou nos vasos do meu apartamento podem contribuir para esse impacto todo?
Pois é, as plantinhas são assim belas e tranquilas, mas só aparentemente, pois para garantirem sua sobrevivência e, principalmente, dos seus descendentes, elas não medem esforços para tal, competindo entre elas e garantindo as mais diversas formas de dispersão de suas sementes, seja através do vento, dos mais variados tipos de animais, inclusive nós seres humanos, como até na sola de nossos sapatos.
Você já deve ter ouvido falar de uma planta chamada “Beijinho”, antiga “Maria sem vergonha”, (Impatiens walleriana) essa mocinha é umas das espécies de maior ameaça, infiltrada em nossos ecossistemas, hoje praticamente em todos do Brasil. Ela é nativa da África, uma espécie de áreas sombreadas e que produzem sementes em grande quantidade que são lançadas pela planta mãe a grandes distância da mesma, e por serem muito resistentes germinam em grande quantidade, causando um desequilíbrio e a impossibilidade para que plantas nativas germinem, dominando o local, sendo ideal sua substituição por outras espécies nativas ou exóticas não invasoras.
Assim como a “Beijinho” a conhecida e muito utilizada no paisagismo, Palmeira Chefleras (Schefflera arboricola), nativa da Ásia, produz grandes cachos de frutos coloridos e que chamam a atenção de aves, mesmo não sendo fonte de alimento para as mesmas, facilitando sua dispersão, e por serem também de grande resistência, competem de forma desigual com Palmeiras Nativas, como a Juçara, levando a casos polêmicos como o do Parque Trianon na cidade de São Paulo, onde um grupo de pessoas são a favor da sua retirada para dar a vez às nativas, as quais estão em minoria e com dificuldade de se desenvolverem.
Sem dúvida dói no coração pensar em eliminar plantinhas que lá estão, plenas e belas, mas precisamos pensar que elas estão tomando o lugar de forma desigual de outras espécies que são fundamentais para que nossos verdadeiros ecossistemas possam continuar existindo, e sem a ajuda dos humanos, quem há anos já vem alterando estes mesmos ecossistemas, não vamos conseguir manter e/ou recuperá-los, acarretando, cada vez mais, em habitats desconhecidos e inóspitos para nós humanos, podendo levar a nossa parcial ou total extinção.
Portanto, a escolha das espécies vegetativas que pretendemos plantar, seja em nossos jardins dentro ou fora de casa devem ser baseadas numa escolha consciente e informada que impactam no futuro da conservação da biodiversidade, nos serviços ecossistêmicos (tema do último post), evitando custos altíssimos para a sociedade, impactos na economia e à saúde humana.
Por fim, relembro que a escolha das espécies, mesmo que nativas, também requer conhecimento para com os ecossistemas e condições ambientais, plantas nativas são aquelas que se encontram em seu ambiente de origem ou evolução, independente das divisas políticas, portanto, o Brasil com essa escala continental toda pode nos levar a um cenário de que uma espécie nativa da região nordestes pode ser considerada exótica em território mais ao sul.