Uma vez perguntado se seria político, o escritor Guimarães Rosa respondeu: "Eu jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade… Ao contrário dos ‘legítimos’ políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou escritor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem. Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las."
Sua resposta, tão contemporânea, mesmo que respondida no século passado, me fez refletir!
Primeiro em São Paulo, depois no Rio de Janeiro, as enchentes enfrentadas nos levaram a experienciarmos uma mistura de tristeza, indignação e desejo por mudanças reais.
Afinal, em pleno 2019, essa duas importantes cidades, as quais recebem o posto de capitais, como ainda podemos conviver com situações de calamidade como as que presenciamos, seja pessoalmente ou pelas telas.
Avenidas e ruas hoje, amanhã rios e lagos!
Pessoas que veem seus pertences indo embora junto com a última gota de prezo que lhes foi ofertada. Mas, ainda mais triste que isso, VIDAS, o bem mais precioso, descartadas como algo supérfluo como se facilmente pode ser repostas.
Não sei você, mas eu me pergunto, mais uma vez, como no caso de Brumadinho e tantos outros acontecimentos resultados do descaso; Como deixaram chegar a esse ponto?
Guimarães Rosa já sabia, quem pensa em minuto, e mais que isso, no imediatismo e no individualismo, não planta árvores, não respeita a vida e não constrói FUTURO.
Não sou de enaltecer o exterior, como se fossem os donos da verdade, ou superiores a nós, mas é justo dar destaque às iniciativas e medidas preventivas que visam a melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos e do local que habitam. Como o caso da cidade de Nova York, com seu New York city's green infrastructure programa, que nada mais é que um plano de "verdejar" a cidade com o objetivo de tornar suas áreas públicas, e incentivar também as privadas, a terem mais espaços de jardim que possam impactar positivamente no ar, diminuindo a poluição sonora, melhorando a temperatura e, principalmente, contribuindo para maior drenagem das águas de chuva, impedindo assim novas enchentes.
Pois é, não se trata de nenhuma solução tecnológica ou mirabolante da NASA, SIMPLESMENTE PLANTAR! Sejam árvores ou outras espécies, a vegetação é um investimento barato e simples que contribuem imensamente para cidades mais sustentáveis.
Hoje, se dermos uma voltinha pela região leste e norte, por exemplo, da cidade de São Paulo, é triste de ver, a aridez desses locais, são poucas as áreas verdes, e quase nada de arborização urbana, são asfaltos e mais concretos, deixando a difícil tarefa de escoar toda a água das chuvas para os bueiros entupidos de lixos.
Claro que esta não é a única saída, existem outras atitudes e medidas necessárias em conjunto para se combater enchentes, porém, enquanto todos, sejam governantes e sociedade civil, continuarem pensando em minutos e não construindo o futuro, serão cada vez mais recorrentes cenas como as que assistimos nos últimos meses, e maior o medo nos olhares dos habitantes a cada gota de chuva anunciada.