O que o Cerrado pode ensinar sobre paisagismo regenerativo e design positivo para o clima?
- Elis Cristina
- 15 de abr.
- 3 min de leitura
Na Soul Verde, acreditamos que um projeto de paisagismo regenerativo nasce do encontro entre técnica, sensibilidade e conexão profunda com a natureza. E é por isso que buscamos constantemente o contato direto com os biomas brasileiros, para compreender suas dinâmicas ecológicas e expressões vivas da paisagem. Na última semana estive em uma expedição pela região da Serra do Espinhaço oferecida pelo querido e sábio Arquiteto Paisagista Oscar Bressane, passando por locais incríveis em Diamantina, Serro, Pico do Itambé e Serra do Cipó. Uma verdadeira imersão no coração do Cerrado.
Essa experiência de campo não é apenas uma jornada inspiradora, mas também uma ferramenta estratégica para que nossos projetos ganhem ainda mais força, coerência e inteligência ecológica. Assim como Burle Marx, que explorava a vegetação brasileira em suas viagens pelo país para compor seus jardins, também buscamos compreender o bioma em profundidade para propor soluções autênticas e resilientes, bem como reconhecer as histórias e culturas que formam nosso país.
O Cerrado é um dos biomas mais biodiversos do planeta e, ao mesmo tempo, um dos mais ameaçados. Caminhar por trilhas, observar a morfologia das plantas, a resistência dos solos, os ciclos da água e as relações entre espécies vegetais e animais é essencial para quem busca criar espaços que se alinham às condições locais, à sustentabilidade e ao enfrentamento das mudanças climáticas.
A escolha pela região da Serra do Espinhaço se deu por se tratar de um divisor natural entre os biomas Cerrado e Mata Atlântica e foi reconhecida pela UNESCO como Reserva da Biosfera. A região abriga uma biodiversidade riquíssima e ecossistemas únicos como os campos rupestres.
Os campos rupestres, em especial, são considerados um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo. Sua vegetação rica em plantas lenhosas e herbáceas evoluiu em equilíbrio com solos rochosos, alta insolação e clima seco. Estudar essas formas de vida nos ajuda a pensar em paisagismo de baixa manutenção, adaptado ao clima e com alto valor ecológico, pilares do que chamamos de design positivo para o clima.
Durante a expedição, registramos diversas espécies adaptadas a essas condições extremas, como solos ácidos, altas temperaturas e longos períodos de seca. Plantas como o pequizeiro (Caryocar brasiliense), a diversidade de sempre-vivas como o apaixonante Chuveirinho (Paepalanthus sp.) e a canela-de-ema (Vellozia squamata) são exemplos de espécies nativas do Cerrado que inspiram soluções paisagísticas de baixo consumo hídrico, alta resistência e muitíssima beleza.
Ao estudar suas estratégias naturais, como folhas espessas, raízes rasas e resistência ao fogo, conseguimos aplicar conceitos de design positivo para o clima: jardins com baixa manutenção, mais biodiversidade, menor uso de insumos artificiais e economia de recursos como água e energia.
Esse tipo de abordagem permite criar paisagens belas e funcionais que não apenas regeneram ecossistemas locais, mas também ajudam empresas, condomínios e indústrias a fortalecerem seus compromissos com ESG e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Ao integrar a leitura da paisagem e o uso de espécies nativas aos nossos projetos, geramos também uma economia significativa para os empreendimentos. Espaços desenhados com base na inteligência da natureza têm menor custo de manutenção, maior durabilidade e um impacto ambiental positivo. E, mais do que isso, criam uma identidade visual e sensorial única, conectada às raízes do território.
Expedições como essa reafirmam nosso compromisso com a escuta da paisagem, com o design regenerativo e com a entrega de projetos que respeitam a natureza e as pessoas.
Na Soul Verde, cada projeto é um elo entre o presente e o futuro, entre a ciência e a beleza, entre o bioma e o bem-estar.
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